
Genebra, Suíça. 4 de maio de 2006 (UICN) – Um total de 784 espécies foram declaradas oficialmente “extintas” e 65 unicamente sobrevivem em criadouro ou cativeiro. Das 40.177 espécies avaliadas utilizando o critério da Lista Vermelha da União Mundial para a Natureza (UICN), 16.119 estão listadas agora como espécies ameaçadas de extinção. Isto inclui um de cada três anfíbios e 1/4 das árvores coníferas do mundo, assim como 1/8 das aves e 1/4 dos mamíferos conhecidos por estar em perigo.
A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas 2006 da UICN faz um alerta sobre a progressiva deterioração da biodiversidade e o impacto que a humanidade provoca sobre a vida na Terra. É mundialmente reconhecida como a avaliação com maior autoridade sobre o estado global das plantas e animais, provê uma medição real do progresso, ou retardo, no alcance da meta acordada em nível mundial de reduzir significativamente a taxa de perda de biodiversidade para 2010.
“A Lista Vermelha da UICN de 2006 mostra uma clara tendência: o aumento da perda de biodiversidade, não sua diminuição”, disse Achim Steiner, diretor-geral da União Mundial para a Natureza. “As implicações desta tendência para a produtividade e adaptabilidade dos ecossistemas e a vida e meio de vida de bilhões de pessoas que dependem destas estão longes de ser conseguidas. Reverter esta tendência é possível, como provam muitas histórias exitosas. Para alcançar êxito em uma escala global necessitamos de alianças novas entre todos os setores da sociedade. Os ambientalistas por si sós não podem salvar a biodiversidade; esta tarefa deve se converter em uma responsabilidade de todos e principalmente de quem tem o poder e os recursos para atuar”, acrescentou.
As dificuldades de sobrevivência do tubarão angelote (Squatina squatina) e da arraia noruega (Dipturus batis), comumente vistos nos mercados de pesca europeus, ilustram o recente e rápido declínio das espécies de tubarões e arraias. O tubarão angelote (que subiu da categoria vulnerável para a de Em Perigo Crítico ) é agora muito escasso no Mar da Irlanda e no mar do Norte.
À medida que a pesca se estende para águas mais profundas, o tubarão galludo manchado (Centrophorus granulosus), que vive nas profundezas, está listado como vulnerável com uma diminuição de sua população local que chega a 95%. Esta pressão da pesca, devido a sua carne e óleo de fígado, supera sua capacidade reprodutiva e de uma pesca sustentável. Suas populações estão destinadas a diminuir pela ausência de limites internacionais para sua captura.
“As espécies marinhas estão em risco igual de extinção ao das espécies terrestres: a situação desesperada de muitos dos tubarões e arraias é só a ponta do iceberg”, disse Craig Milton-Taylor, da Unidade da Lista Vermelha da UICN. “É preciso realizar ações urgentes que permitam melhorar amplamente as práticas de manejo e implementar medidas de conservação, tanto como estabelecer áreas de pesca proibida e reforçar as regulações sobre o tamanho das malhas de redes e os limites internacionais à pesca, antes que seja tarde demais”.
Os peixes de água doce estão no topo da lista de extinção

As espécies de água doce não estão em uma situação melhor. Têm sofrido as diminuições mais dramáticas: 56% dos 252 peixes endêmicos de água doce do Mediterrâneo estão ameaçados de extinção, constituem assim o percentual mais alto das avaliações regionais de peixes de água doce até agora. Sete espécies, incluídas espécies de Turquia e Croácia estão agora extintas. Das 564 espécies de libélulas (damselfly) avaliadas até agora, uma de cada três (174) está ameaçada, incluindo cerca de 40% das libélulas endêmicas do Sri Lanka.
“Os peixes são necessários para a alimentação, mas as atividades humanas nas bacias, l\a devastação de bosques, a contaminação, a extração da água e a eutrofização são os fatores mais importantes que influem na qualidade e quantidade de água. Isto tem um impacto grande nas espécies de água doce e no bem-estar das comunidades ribeirinhas”, disse Jean-Christophe Vié, subdiretor do Programa de Espécies da UICN. Além de ser uma fonte importante de alimentos, os ecossistemas de água doce são essenciais para a água potável e o saneamento.
Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo ainda carece de acesso a fontes de água segura. O contínuo declínio das áreas úmidas e dos ecossistemas de água doce dificultará ainda mais a possibilidade de resolver estas necessidades e manter as fontes existentes.
As libélulas são espécies importantes porque vivendo em um hábitat semi-aquático, estão provando serem indicadores úteis sobre a qualidade do hábitat, tanto abaixo como acima da superfície da água. No Quênia, por exemplo, a libélula Notogomphus maathaiae está sendo promovida como uma espécie de bandeira para criar consciência sobre sua potencialidade como “guardiã das reservas de água”.
Perdas em todas as latitudes

Os ursos polares (Ursus maritimus) estão prontos para converterem-se em uma das vítimas do aquecimento global. O impacto das mudanças climáticas se sente cada vez mais nas regiões polares, onde se espera que as calotas polares diminuam. A previsão é de que mais de 30% da população de ursos polares diminuirá nos próximos 45 anos, já que estes animais dependem das geleiras flutuantes dos Árticos para caçar focas e são altamente especializados em viver em ambientes marinhos do Ártico.
Os ursos polares, que no passado foram listados como espécies dependentes de conservação, agora ingressaram na categoria de ameaçados, sendo classificados como vulneráveis.
Um chamado à preservação da biodiversidade

Que podemos fazer para deter e reverter a deterioração da biodiversidade na Terra, da qual depende nosso próprio bem-estar?
A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN atua como um chamado ao mundo para que centre sua atenção na situação de nosso meio ambiente. Tem se tornado uma ferramenta cada vez mais poderosa para o planejamento, a gestão, o monitoramento e a tomada de decisões para a conservação. Pelo menos 57 países utilizam agora as Listas Vermelhas Nacionais, seguindo o critério da UICN para centrar-se em prioridades de conservação.
Graças às ações de conservação, a situação de certas espécies tem melhorado, provando que essa estratégia funciona. Tendo como base as grandes recuperações em muitas nações européias, o número de águias (Haliaeetus albicilla) duplicou nos 90s e a espécie passou de Quase Ameaçada para Preocupação Menor. O reforço da legislação para proteger a vida das espécies e as medidas de proteção estabelecidas para tratar as ameaças de mudanças no hábitat e prevenir a contaminação produziram um incremento das populações.
Na Ilha da Páscoa, na Austrália, a ave marinha “Alcatraz de abbott” (Papasula abbotti) estava em declínio devido à destruição de seu hábitat e à introdução de uma espécie invasora, a formiga amarela (Anoplolepis gracilipes) que teve um forte impacto na ecologia da ilha. O alcatraz, que estava na categoria de em perigo crítico na Lista Vermelha 2004, se recuperou graças a medidas de conservação e já passou à categoria de em perigo.
Outras plantas e animais que já constaram da Lista Vermelha em posições de ameaça crítica são agora alvos de ações de conservação coordenadas que podem conduzir a melhorias em seu estado de conservação em um futuro próximo.
Os desertos estão morrendo

A pegada da humanidade no planeta se estende inclusive até regiões que pareciam estar longes de sua influência. As plantas e animais especialmente adaptados aos desertos e áreas úmidas, que podem aparecer como relativamente isoladas, também aparecem como os mais raros e ameaçados na lista. Mesmo lentamente, mas de maneira persistente, os desertos estão sendo esvaziados de sua diversa, quase desapercebida e especializada vida silvestre.
A principal ameaça para a vida silvestre dos desertos é a caça sem regulamentação, seguida pela degradação do hábitat. A gazela dama (Gazella dama) do Sahara, já incluída como Em Perigo em 2004, sofreu uma perda de 80% no número de indivíduos nos últimos 10 anos devido à caça descontrolada e passou para o grau de Em Perigo Crítico . Outras espécies de gazelas Saharianas também estão ameaçadas e parece estarem destinadas a sofrer o mesmo destino do antílope, que agora é considerado como Extinto em estado silvestre.
O que significam as classificações
EXTINTA (EX)
Uma espécie ou subespécie está Extinta quando não resta nenhuma dúvida razoável de que o último indivíduo existente morreu. Se presume que uma espécie ou subespécie esta Extinta quando prospecções exaustivas de seus hábitats, conhecidos e/ou esperados, nos momentos apropriados (diários, estacionais, anuais), e ao longo de sua área de distribuição histórica, não foi possível detectar um só indivíduo. As prospecções deverão ser realizadas em períodos de tempo apropriados ao ciclo de vida e formas de vida da espécie ou subespécie.
EXTINTA EM ESTADO SILVESTRE (EW)
Uma espécie ou subespécie está Extinta em Estado Silvestre quando só sobrevive em criadouro, em cativeiro ou como população naturalizada (domesticada) completamente fora de sua distribuição original. Se presume que uma espécie ou subespécie esta Extinta quando prospecções exaustivas de seus hábitats, conhecidos e/ou esperados, nos momentos apropriados (diários, estacionais, anuais), e ao longo de sua área de distribuição histórica, não foi possível detectar um só indivíduo. As prospecções deverão ser realizadas em períodos de tempo apropriados ao ciclo de vida e formas de vida da espécie ou subespécie.
EM PERIGO CRÍTICO (CR)
Uma espécie ou subespécie está Em Perigo Crítico quando se considera que enfrenta um risco extremamente alto de extinção em estado silvestre.
EM PERIGO (EN)
Uma espécie ou subespécie está Em Perigo quando está enfrentando um risco muito alto de extinção em estado silvestre.
VULNERÁVEL (VU)
Uma espécie ou subespécie está Vulnerável quando está enfrentando um risco alto de extinção em estado silvestre.
QUASE AMEAÇADA (NT)
Uma espécie ou subespécie está Quase Ameaçada quando está próxima a satisfazer os critérios das categorias: Em Perigo Crítico, Em Perigo ou Vulnerável; ou possivelmente os satisfaça, em um futuro próximo.
PREOCUPAÇÃO MENOR (LC)
Um espécie ou subespécie se considera na categoria de Preocupação Menor quando, tendo sido avaliada, não cumpre nenhum dos critérios que definem as categorias de Em Perigo Crítico, Em Perigo, Vulnerável ou Quase Ameaçada.Incluem-se nesta categoria espécies ou subespécies abundantes e de ampla distribuição.
DADOS INSUFICIENTES (DD)
Uma espécie ou subespécie se inclui na categoria de Dados Insuficientes quando não há informação adequada para fazer uma avaliação, direta o indireta, de seu risco de extinção baseando-se na distribuição e/ou condição da população. Uma espécie ou subespécie nesta categoria pode estar bem estudada, e sua biologia ser bem conhecida, mas carecer dos dados apropriados sobre sua abundância e/ou distribuição. Dados Insuficientes não é portanto uma categoria de ameaça. Ao incluir uma espécie ou subespécie nesta categoria se indica que se requer mais informação, e se reconhece a possibilidade de que pesquisas futuras demonstrem que uma classificação de ameaçada possa ser apropriada.
Em muitos casos é preciso ter muito cuidado em fazer a opção por classificar como Dados Insuficientes e uma condição de ameaça. Se há indícios de que a distribuição de uma espécie ou subespécie está relativamente circunscrita, e se transcorreu um período considerável de tempo desde o último registro da espécie ou subespécie, então a condição de Ameaçada pode estar bem justificada.
NÁO AVALIADA (NE)
Uma espécie ou subespécie se considera Não Avaliada quando ainda não foi classificada em relação a estes critérios.
Os oceanos esvaziam…
Um elemento adicional-chave da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas 2006 é a inclusão de uma primeira avaliação regional completa de grupos marinhos seletos. Os tubarões e as arraias estão entre os primeiros grupos que foram avaliados de maneira sistemática e o resultado indica que das 547 espécies listadas, 20% estão ameaçadas de extinção.
Isto confirma a suspeita de que estas espécies, de baixa taxa de reprodução, são altamente susceptíveis à superexploração pesqueira e estão desaparecendo a uma velocidade sem precedentes em todo o mundo

Diminui a população de hipopótamos
O hipopótamo, ícone aquático do continente africano, entra na lista pela primeira vez como Ameaçado, na categoria de vulnerável. Na República do Congo 95% da população de hipopótamos diminuiu devido à caça indiscriminada para obter sua carne e seus dentes de marfim.

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