Prós e contras dos mega-eventos

Maria do Carmo Zinato

O IV Fórum Mundial da Água, como todo mega-evento, deixa atrás de si um conjunto de resultados positivos e críticas contundentes relacionadas ao como deveria ter sido. Levando-se em conta que, em quase todos os países do mundo, os atores da gestão de recursos hídricos estão realizando projetos locais de grande importância, somente grandes eventos como este Fórum conseguem oferecer-lhes uma oportunidade de intercâmbio e estabelecimento de contato pessoal com tantos prováveis parceiros e potenciais patrocinadores.

Do ponto de vista político, eventos mundiais representam uma forma de marcar os passos do caminho que cada país tem de percorrer no sentido do cumprimento dos acordos assinados. Funcionam como uma forma de monitoramento, co-ordenação e, de certa forma, pressão social sobre os governos. Neste Fórum, foram os representantes de vários países os protagonistas das diversas sessões, procurando mostrar o que de bom estão fazendo que poderia ser multiplicado em outros lugares. Nesse contexto, ficou evidente que o Brasil cumpriu seu dever de casa pois tanto autoridades da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) quanto da Agência Nacional de Água (ANA) tiveram destaque em algumas das sessões.

A pressão social sobre os governos, que sempre tempera esses mega-eventos, vem das reuniões alternativas e da própria imprensa sempre presente. O Fórum Alternativo contribuiu com outras perspectivas. Ambos eventos somaram-se e completaram-se, dando maior visibilidade mundial à água, o que é, afinal, um dos objetivos de todo esse mega-esforço.

A alegação de que o Fórum é caro e excludente parecia duvidosa visto que vários representantes de diversas ONGs e movimento sociais, inclusive brasileiros, assim como estudantes uniformizados e trabalhadores rurais, circularam ou se apresentaram nas sessões e feiras. Talvez, se houvesse mais projetos que incluíssem entre seus produtos o intercâmbio de experiências e divulgação das lições aprendidas dentro e fora do próprio país, poderíamos ter visto muito mais de 20 mil participantes nesse mega-evento.

A imprensa, por sua vez, ao entrevistar as autoridades, acaba por confrontá-los com as tendências mundiais, questionando próximos passos ou compromissos que ainda não foram cumpridos. De modo geral, mais atentos ao que pode ser notícia vendável para a população em geral, a mídia busca vitórias, experiências bem sucedidas, mas também conflitos e contradições. Assim foi que as notícias do IV Fórum figuraram nas capas dos jornais mexicanos e ocuparam páginas inteiras especialmente nos primeiros dias.

É notável que as toneladas de material impresso distribuídos nesses eventos vêm se reduzindo na medida que novas formas de publicação estão disponíveis, como os CDs, os sítios na Internet e os boletins eletrônicos (newsletter).

Apesar das insinuações de que este Fórum teria o objetivo oculto de promover privatizações de água, grande quantidade de sessões alardearam exatamente o contrário, havendo uma presença marcante de representantes da sociedade civil, do meio acadêmico e de organizações não governamentais em muitas delas. Vários painéis enfocaram a maior participação pública na gestão, a capacitação e formas de financiamento para ações locais, inclusive na fala de representantes de instituições financeiras.

Papel educativo

Maria do Carmo Zinato é mestre em planejamento urbano e rural.

Divulgar o tema água para a população em geral é um desafio, de fato, de proporções mundiais. Paulatinamente grandes eventos, globais, regionais ou nacionais têm conseguido esse destaque na mídia para a água. Cerca de 1.300 jornalistas, dentre eles vários brasileiros, trabalharam em espaço privilegiado, contando com excelente logística no Banamex Center, onde se realizou o evento. Deve ser muito difícil para os jornalistas conseguir espaço nos noticiários locais e internacionais. E poucos deles estão interessados em informar e esclarecer, mais do que somente noticiar.

Outro aspecto relevante desses eventos é seu papel educativo, permitindo aos tomadores de decisão, elaboradores de políticas e outros atores da gestão de recursos hídricos atualizarem seus conhecimentos. Autores de novas tecnologias e formas de se cuidar da água, algumas delas nascidas no seio de universidades, estavam disponíveis, ganharam prêmios ou participaram de uma ou outra sessão.

O Fórum das Crianças foi um ponto alto do evento, ocupando o salão principal durante a apresentação de suas recomendações para os Ministros. A mistura de cinema, espaços para crianças e jovens e sessões extremamente técnicas ou políticas foi responsável por um ambiente bastante diversificado.

Leave a Reply

Your email address will not be published.