Armazenamento arriscado

O Distrito Federal tem cerca de 300 postos de gasolina, mas nem todos estão dentro dos padrões de segurança. Na Asa Sul, vários estabelecimentos antigos precisam ser reformados, porque mantêm os mesmos tanques de armazenamento desde que entraram em funcionamento. A corrosão nesses depósitos e o vazamento das caixas coletoras colocam em risco a saúde das pessoas que moram nas regiões próximas a esses estabelecimentos. O consumo de água contaminada com alto grau de concentração de resíduos químicos pode levar ao câncer. É o que comprova uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB).

A constatação se deu pela análise de amostras de sangue da tilápia, uma espécie de peixe encontrado no do lago Paranoá, colocada em contato com os resíduos diluídos dos vazamentos durante 72 horas. Os pesquisadores também observaram o crescimento da raiz da cebola, submetida à substância, e analisaram os efluentes dos postos de gasolina. Resultado: verificaram que tanto o peixe, quanto a cebola apresentavam alterações celulares, indicando presença de contaminantes tóxicos e os efluentes dos postos de combustíveis demonstraram a presença de benzeno, tolueno e xileno, compostos conhecidamente carcinogênicos.

“Isso mostra, que há possibilidades de essas substâncias também alterarem o DNA humano”, afirma Cesar Koppe Grisolia, o orientador da tese Análise Toxicológica dos Efluentes dos Postos de Gasolina do Distrito Federal, da aluna de doutorado Cynthia Rodor. Grisolia chama a atenção para o fato de alterações não serem consideradas mutações.

Descaso

Até o início de 2005, no Distrito Federal e em regiões de Goiás foram detectados três vazamentos -, um dos quais no posto Brazuca, na região da cidade de Sobradinho; outro em Valparaíso e outro no Lago Sul. Nas imediações do Brazuca, houve casos de comprometimento da saúde de moradores, que teriam consumido água contaminada.

A contaminação da água ocorre principalmente pelos vazamentos dos efluentes que saem das caixas coletoras e comprometem as águas superficiais, por derramamentos de gasolina nas pistas do postos. A conseqüência disso é o transporte da poluição pelo sistema de drenagem do estabelecimento até a estação de tratamento de esgoto.

Quem estabelece as normas para segurança dessas caixas e dos tanques e fiscaliza os postos de combustíveis é a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), mas o problema maior, segundo Grisolia, não é a falta de fiscalização, mas o descaso com revisões e adequação aos padrões de segurança contra incêndios, danos ambientais e vazamentos com regularidade.

Cesar Grisolia é doutor em Genética e mestre na mesma área pela Universidade de São Paulo. Em janeiro de 2005, foi empossado como representante brasileiro na Convenção de Roterdã, da Food and Agriculture Organization (FAO- ONU), que regulamenta o comércio internacional de substâncias tóxicas, especialmente agrotóxicos.

Normas

A Resolução 273, de 29 de novembro de 2000, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), define as regras para o licenciamento prévio, localização, construção, instalação, modificação, ampliação e operação de postos revendedores, postos de abastecimento, instalações de sistemas retalhistas e postos flutuantes de combustíveis.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) é responsabilidade do posto zelar pela segurança das pessoas e instalações, bem como de seus empregados, além da proteção do meio ambiente. Veja a seguir algumas regras que devem ser seguidas pelos donos de postos:

• O cadastro do posto deve estar sempre atualizado. Se durante a fiscalização, for encontrada uma bomba ou qualquer outro equipamento que não conste da ficha cadastral, o equipamento poderá ser interditado.

• Os tanques de combustível têm que ser subterrâneos. É proibido o uso de qualquer outro tipo de instalação de tanque, com exceção dos postos flutuantes.

• Um posto nunca deve comprar produtos além da sua capacidade de estoque.

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