Regina Viegas (CEFET-RJ) e Roosevelt S. Fernandes (NEPA-UNIVIX)
Apresentamos neste espaço um resumo do artigo Avaliação do perfil de cidadania ambiental de Estudantes do Ensino Médio-técnico do CEFET-RJ , de Regina Viegas (CEFET-RJ) e Roosevelt S. Fernandes (NEPA-UNIVIX), que analisa a aplicação da metodologia da avaliação da percepção ambiental a alunos do ensino médio-técnico do CEFET-RJ, desenvolvida por convênio entre o Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (CEFET-RJ) e o Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental (NEPA), da Faculdade Brasileira – UNIVIX, Vitória – ES, que se dedica a este tipo de pesquisa nas áreas ambiental, social e educacional.
O objetivo do estudo é gerar um banco de dados de informações sobre o perfil da cidadania ambiental destes jovens, permitindo, a partir do mesmo, definir ações específicas complementares de Educação Ambiental voltadas a contribuir, direcionar e ampliar a visão ambiental dos jovens. Uma visão diferenciada de estruturar programas de Educação Ambiental à luz de informações previamente identificadas e quantificadas.
A pesquisa, apesar de confirmar vários pontos positivos do perfil da cidadania ambiental dos jovens (do ensino médio-técnico, de classe média e provenientes de escolas de bom nível), apresenta alguns pontos preocupantes.
A metade deles admite que os assuntos relacionados ao meio ambiente não vêm sendo tratados com freqüência nas escolas, enquanto que 90,8% admitem que este assunto também não é abordado no âmbito das famílias. Entre eles, 75% não acessam sites ligados à temática ambiental, enquanto a maioria não acredita na ação dos órgãos normativos de controle ambiental, sendo que apenas 59,2% acreditam nos trabalhos das ONGs ambientalistas.
Do grupo amostrado verificou-se que 73,1% não acreditam que a ação de um cidadão sozinho possa alterar a continuidade de uma ação danosa ao meio ambiente, sendo que 33.3% deles admitem não causar nenhum tipo de agressão ao meio ambiente.
As indústrias (35,5%) são vistas como agentes que não investem em meio ambiente e não atendem a legislação ambiental, enquanto o governo apresenta um índice elevado para 74,2% para o mesmo tipo de avaliação, sendo exigido por 31,9% dos jovens a criação de novas leis na área ambiental Estes mesmos jovens acabam por decidir a compra de produtos e serviços apenas à luz dos critérios preço e qualidade, descartando a opção potencial da análise de agressão ao meio ambiente.
Entre os aspectos positivos, 77,5% se interessam por assuntos ligados à temática ambiental, 85,5% acreditam que o conhecimento da problemática ambiental é essencial para a sua formação profissional, 85,6% admitem a viabilidade da adoção do princípio do Desenvolvimento Sustentável e 88% recusam aceitar mais poluição por um aumento do nível de emprego.
Percepção e interesse pelos 20 maiores problemas ambientais do planeta
Quando perguntamos pelo interesse em conhecer maiores informações sobre os grandes problemas ambientais do planeta, apesar de mostrarem interesse por todos, focaram sua atenção prioritariamente sobre “colapso dos pesqueiros nos oceanos” (15,1%), “emissão das chaminés de indústrias (7,7%) e de emissões de veículos” (10,6%), “mudanças climáticas” (9,9%) e “aumento dos níveis dos oceanos” (9,9%), não dando importância, o que é preocupante, ao crescimento da população (nenhuma referência foi feita a este item, básico para a explicação dos vários outros selecionados como de interesse). Também se observou Efeito El Nino com 3,3%, Engenharia Genética com 7,7%, desmatamento e desertificação com 6,9%, degradação das zonas costeiras (5,8%), redução da Camada de Ozônio (2,2%), poluição do ar (1,2%), pobreza (0,7%), poluição dos mares (2,2%), escassez de água (2,5%), poluição das águas (3,3%), consumo de energia (4,0%), perda da biodiversidade (4,0%), desperdício de recursos naturais (1,6%) e poluição do solo (1,1%). Um contexto de respostas que evidencia a necessidade de uma ação urgente de conscientização dos jovens frente a real problemática ambiental.
Prioridade da ação dos atores sociais
Em termos das origens (fontes causadoras) dos problemas ambientais, o grupo identificou em primeiro lugar as indústrias, seguidas do governo, depois pela população, comércio e, por último, a agricultura. Talvez por se tratar de jovens que vivam numa metrópole como o Rio de Janeiro, a questão da agricultura não lhes seja familiar.
Comportamento das indústrias
Quanto à ação das indústrias, em termos da iniciativa de resolver seus problemas ambientais, os entrevistadas evidenciaram um comportamento negativo: não investem e nem atendem as exigências ambientais, para 35,3% dos entrevistados, seguido de omitem informações em relação aos danos que causam (36,0%), deveriam utilizar parte do seu lucro para investir em meio ambiente (9,9%). Um outro grupo considerou que as empresas investem em meio ambiente, mas ainda causam poluição (7,7%), que precisam de financiamento do governo para resolver seus problemas ambientais (6,2%), enquanto apenas 4,7% enfatizaram que as empresas investem em meio ambiente e atendem as exigências ambientais.
Comportamento do Poder Público
O nível de pessimismo foi ampliado. A opção “não investem em meio ambiente e nem cumprem as normas ambientais” ficou com 74,2% dos entrevistados, seguido de “não investem em meio ambiente” (15,8%), “não investem em meio ambiente, pois sendo Em relação ao comportamento do Governo, ficou também evidente um grau de Governo não precisam atender as normas ambientais” (2,6%), “investem, mas ainda causam poluição” (4,0%), sendo que apenas 3,3% admitem que o governo “investe e procura atender a legislação ambiental”.
Percepção de desenvolvimento associado à agressão ao meio ambiente
Apesar da maioria (85,6%) admitir que é possível o desenvolvimento econômico e social sem agressão ao meio ambiente, 6,2% admitiram que não, havendo casos onde a agressão ambiental é o preço a ser pago pela sociedade pelo desenvolvimento da região. Um outro grupo admitiu a resposta não, dado que a agressão ambiental é inerente a todo processo de desenvolvimento (6,6%). Por último, 1,5% admitem que o conceito de desenvolvimento não está ligado a problemática ambiental.
Percepção dos segmentos que mais consomem água no Brasil
Quando questionado sobre o segmento que mais consome água, a indicação da maioria foi pela “indústria” (43,0%), “agricultura” (29,8%) – este efetivamente o segmento que mais consome água – seguido de “abastecimento público” (15,8%), do “comércio” (8,1%). Um grupo (3,3%) admite não haver diferença significativa entre o consumo de água dos diferentes segmentos econômicos.
Poluição e nível de emprego
A idéia de aceitar um pouco de poluição em troca de mais empregos foi francamente recusada (88,7%) pelos entrevistados, apesar de haver um grupo que aceitaria a proposta (11,3%).
Veja no arquivo anexo a íntegra do trabalho.
Outros resultados
Confiabilidade dos resultados de monitoramentos ambientais
Quanto perguntados se as empresas que medem, elas próprias (automonitoramento), seus níveis de poluição, frente à sinceridade das informações disponibilizadas para a sociedade, a maioria foi pela opção da não confiabilidade das informações divulgadas (35,6%), reforçando que esta atividade deveria ser realizada apenas pelo governo (28,7%). Um grupo admite que só alguns resultados divulgados são confiáveis (29,8%), sendo que apenas 5,9% acreditam que as empresas divulgam com seriedade todos os resultados de medições ambientais que realizam.
Coleta Seletiva
A aceitação da coleta seletiva (compulsória) foi opção da maioria (70,5%), considerando a atividade como útil, mas um grupo, mesmo aceitando a opção, considerou o ato como inútil (21,0%), fato que caracteriza, possivelmente, um descrédito com os resultados de programas já implantados de coleta seletiva. Um grupo (8,5%) admitiu que mesmo que viesse a ser uma exigência legal, não adotariam a prática da coleta seletiva.
Segundo os entrevistados, os recursos obtidos por esta ação deveriam ser revertidos para a região onde os resíduos foram gerados (37,8%), fato preocupante, pois os lixos com maior potencial de resultados econômicos são gerados nos bairros de renda mais elevada, não nos bairros mais carentes. Outros 49,3% indicaram que os recursos deveriam ser revertidos para os bairros mais carentes do município onde o lixo foi gerado, enquanto 8,8% acreditam que os recursos deveriam ser destinados aos cofres públicos para aplicação em projetos ambientais. Por último, 4,0% indicaram que os recursos deveriam ser repassados a ONGs ambientalistas que atuam no município.
Pagar mais por um produto que agredisse menos o meio ambiente
Apesar de terem admitido em questionamento anterior que o ato de comprar produtos e serviços estava associado apenas a “preço” e “qualidade”, a maioria esmagadora dos entrevistados (91,5%) admitiu que pagaria mais por um produto que causasse menos impacto sobre o meio ambiente.
Percepção dos efeitos dos OGMs
Na correlação transgênicos/organismos geneticamente modificados (OGMs) em relação a efeitos sobre a saúde da população, a maioria (76,8%) admitiu haver efeito.
Crimes ambientais
A resposta do grupo frente a diferentes condutas da sociedade em termos de serem ou não consideradas crimes ambientais, evidenciou que a maioria respondeu favoravelmente ao que está definido na Lei de Crimes Ambientais. Todas as condutas apresentadas são crimes ambientais (23,5%), danificar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada (19,8%), destruir bens protegidos por lei (15,4%), pichar e grafitar edificações ou monumentos urbanos (14,3%), alterar o aspecto ou estrutura de edificações ou locais especialmente protegidos por lei (9,9%), praticar maus-tratos a animais silvestres ou domésticos (6,6%), danificar museu, bibliotecas, instalação científica ou similar protegido por lei (3,5%), promover construção em solo não edificável ou no seu entorno (3,3%) e modificar, danificar ou destruir ninhos ou abrigos naturais (2,2%).
Pilhas e lâmpadas fluorescentes
Por último, quando perguntados onde destinam pilhas e lâmpadas fluorescentes usadas, a grande maioria (96,7%), optou pela simples alternativa de descarte no lixo comum da residência. Apenas 2,6% indicaram locais especialmente definidos pelos órgãos ambientais para o recolhimento destes produtos, enquanto 0,7% declara que o devolve na loja onde os comprou.
Leave a Reply