Contaminação integrada

Eduardo Geraque, da Cidade do México

Agência FAPESP – O tamanho do esforço científico é compatível com a grandiosidade do problema. Cerca de 400 pesquisadores de vários países estão envolvidos com as campanhas do programa Milagro (Megacity Initiative: Local and Global Research Observations), que começaram a ser realizadas este mês na Cidade do México, uma das mais poluídas do mundo.

A iniciativa é liderada por Luisa Molina, pesquisadora filipina e mulher do espanhol Mario Molina, ganhador do prêmio Nobel de Química em 1995 e que também participa das atividades. O Brasil está representado por Andréa Castanho, doutora pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo e que faz pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts com uma das equipes que fazem parte do programa Milagro.

“Vou participar no desenvolvimento de métodos para estudar aerossóis atmosféricos por meio de sensoriamento remoto”, explicou a pesquisadora à Agência FAPESP durante o lançamento do programa, no dia 2 de março, em evento que chamou a atenção da sociedade local.

No fim da década 1980, a população da capital mexicana praticamente se rebelou depois que a contaminação atmosférica chegou a níveis alarmantes. Mesmo com a melhora na qualidade do ar, ainda hoje é difícil, num dia de céu aberto, ver os vulcões que cercam a cidade. A altitude média de 2,4 mil metros e o ar seco do inverno chegam a dar, aos acostumados com climas mais úmidos, a sensação de sufocamento em algumas parte do dia. A região metropolitana da Cidade do México tem cerca de 18 milhões de habitantes.

Para conseguir cumprir com seus objetivos, centenas de cientistas, que representam 45 instituições mexicanas e 60 norte-americanas, contam com uma série de ferramentas poderosas. Para as campanhas aéreas, por exemplo, estarão à disposição do grupo seis aeronaves. Além disso, foi montado um laboratório móvel e três sítios físicos de monitoramento.

Segundo Luisa Molina, todos os quatro projetos que fazem parte da megaoperação, a primeira no mundo feita nesses moldes para o estudo da poluição do ar local e regional, custarão US$ 25 milhões. Uma das campanhas aéreas de medição, por exemplo, será feita num DC-8 da Nasa, a agência espacial norte-americana.

Os vôos, com a devida aprovação da Força Aérea Mexicana, partirão de Houston, no Texas, para a coleta das amostras no ar mexicano. “Os recursos são oriundos de instituições mexicanas e européias, mas principalmente do Departamento de Energia dos Estados Unidos e da National Science Foundation”, disse Luisa.

O programa Milagro pretende realizar medições de contaminantes de forma gasosa e em aerossóis, além de estudar o transporte e a transformação dos gases em escala local, regional e até global. Mas os organizadores pensam em algo maior. Segundo eles, é preciso ultrapassar as fronteiras acadêmicas.

Para Luisa, do Centro Molina para Estudios Estratégicos sobre Energía y Medio Ambiente, sediada na Cidade do México, um dos desdobramentos do Milagro é de extrema importância. Parte dos recursos obtidos será destinada para um programa de educação e capacitação de jovens estudantes e de representantes de vários setores interessados pelo tema.

Ao divulgar os dados e os resultados do Milagro para um número maior de pessoas, os responsáveis pelo programa pretendem incentivar a formação de mão-de-obra e, ao mesmo tempo, influir na elaboração de políticas públicas que levem em consideração o problema da contaminação do ar.

Mais informações: milagro.

Dados sobre água

 2,6 bilhões de pessoas — 42% da população mundial — são obrigadas a defecar em bolsas de plástico, fossas abertas e campos agrícolas por falta de instalações adequadas de saneamento.

 Pelo menos 1,1 bilhão de pessoas — cerca de duas em cada dez no planeta —carecem de acesso à água potável segura.

 A crise humanitária silenciosa, criada pela falta de abastecimento de água e serviços de esgoto adequados, mata aproximadamente 3.900 crianças por dia, dificulta uma vida saudável aos pobres, obstrui o avanço da igualdade dos sexos e impede o progresso

 Mais da metade das camas de hospital do mundo estão ocupadas por pessoas que sofrem de doenças relacionadas com a água. econômico.

 Cerca de 6 milhões de pessoas têm certo grau de incapacidade visual por tracoma. Esta é a causa principal de cegueira no mundo em desenvolvimento. A doença está fortemente relacionada com a falta de higiene, muitas vezes por falta de fontes próximas de água segura.

 Um informe recente, preparado pelo Diretório de Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, indica que só 16% da ajuda bilateral para a água em 2001-2002 se destinou a países onde menos de 60% da população tem acesso a uma fonte de água segura.

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