A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) desenvolveu uma alternativa ecologicamente correta e barata para asfaltar as ruas não-pavimentadas na periferia da cidade: o pavimento ecológico. Atualmente, existem cerca de 4 mil quilômetros de ruas sem pavimentação na cidade. Desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Transportes da Poli, o pavimento ecológico é feito a partir de entulho da construção civil, como restos de pilares, vigas, tijolos, telhas e argamassa, além de pneus velhos.
A tecnologia já está sendo utilizada para pavimentar os três quilômetros de vias e estacionamentos do campus da USP na zona Leste, que foi inaugurado no início deste ano. Na pavimentação do campus, estão sendo usadas duas camadas de entulho de construção civil reciclado e, como revestimento, uma camada asfáltica misturada com pneus velhos moídos.
O uso do pavimento ecológico é um bom exemplo de como associar desenvolvimento à preocupação ambiental: sua utilização na USP Leste evitou que 15 mil toneladas de entulho e cerca de 6,5 mil pneus velhos fossem parar nos aterros da cidade ou depositados ilegalmente à beira de estradas, ruas e córregos. Só a cidade de São Paulo produz cerca de 16 mil toneladas de entulho de construção civil por dia, com o agravante de ser escasso o espaço físico disponível para a construção de novos aterros.
“Além de reaproveitar o entulho da construção civil – um material nobre e caro -, a utilização do pavimento ecológico em larga escala ajudaria a diminuir os danos ambientais causados pelo despejo ilegal”, afirma a chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Poli, Liedi Bernucci, que coordena as pesquisas sobre o pavimento ecológico. Ela ressalta que o depósito ilegal de entulho é uma das principais causas de assoreamento e enchentes em épocas de chuva, devido à diminuição da capacidade dos córregos e do sistema de drenagem.
Estudos apontam que entre 40% e 60% dos resíduos sólidos despejados nos aterros de todo o Brasil poderiam ser reaproveitados na pavimentação, na produção de blocos pré-moldados, de argamassa e em outras finalidades.
O pavimento ecológico apresenta ainda duas vantagens em relação à brita, material usado convencionalmente na pavimentação – é cerca de 30% mais barato e apresenta ganho de resistência com o tempo, o que o torna mais durável. Testes em laboratório apontaram ganho de resistência de até 30% ao final de seis meses de estudo, diferentemente da brita que mantém inalterada sua resistência.
Todas essas vantagens fazem do pavimento ecológico uma excelente alternativa para a prefeitura ampliar o serviço de pavimentação na cidade. “Nosso interesse é transferir a tecnologia à prefeitura para ajudar a solucionar um problema importante da cidade, pois não é possível organizar bem o espaço urbano enquanto existirem ruas sem pavimentação”, afirma Liedi.
O Departamento de Transportes da Poli é um dos mais atuantes nas pesquisas dessa área. Além disso, também participou ativamente da elaboração da NBR 15115, norma técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que regulamenta a utilização do agregado reciclado em pavimentação.
Extinção de sapos
Agência FAPESP
Uma extinção em massa ocorrida nas montanhas da Costa Rica, há 17 anos, fez desaparecer dois terços das 110 espécies de rãs do gênero Atelopus.
Sabia-se que a causa direta desse desequilíbrio ecológico havia sido o ataque de um fungo, o Batrachochytrium dendrobatidis. Mas, mesmo com a correlação estabelecida, sempre houve uma dúvida. Por que os fungos conseguiram tanto sucesso em sua estratégia de ataque aos anfíbios costa-riquenhos?
Pesquisa publicada em 12/1, na revista Nature, é taxativa: o responsável por esse desequilíbrio é o homem. As alterações de temperatura nas altitudes entre 1 mil e 2,4 mil metros, provocadas pelo aquecimento global, facilitaram o ataque dos fungos.
Segundo o artigo assinado por Alan Pounds, do Centro de Preservação Tropical da Floresta Úmida de Monteverde, na Costa Rica, e colaboradores, duas situações ambientais que ocorreram na região ajudam a explicar o encontro fatal.
O clima mais quente ou seco – os dados mostram que houve uma diminuição entre as temperaturas máximas e mínimas -causou maior estresse sobre os anfíbios, que teriam ficado mais suscetíveis a doenças.
O outro fato é que os dias mais quentes também beneficiaram os fungos apenas naquelas altitudes, onde as temperaturas costumam ser mais baixas. Ou seja, os fungos encontraram um clima altamente favorável. Nas terras baixas e nos desertos estava muito quente. Em altitudes maiores, frio intenso.
Para correlacionar o fenômeno regional com as mudanças globais, os pesquisadores utilizaram dados de perda de calor entre a superfície do oceano e a atmosfera. Ao usarem testes estatísticos para ligar um fenômeno ao outro, conseguiram um alto índice de confidência, 99%.
“Essa forte sinergia entre transmissão do patógeno e mudanças climáticas pode ser vista também como preocupante para a saúde humana”, escreveu Andrew Blaustein, da Universidade do Estado de Oregon, Estados Unidos, em comentário na mesma edição Nature.
“As rãs estão emitindo um sinal de alarme para todos, indicando que devemos nos preocupar com o futuro da biodiversidade e com a proteção do maior de todos os recursos que está ao alcance de todos: a atmosfera”, disse Blaustein.
O artigo Widespread amphibian extinctions from epidemic disease driven by global Warming pode ser lido, por assinantes, no endereço www.nature.com

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