Espécies sob ameaça

Eduardo Geraque –

Agência FAPESP

Em ilhas e montanhas, a situação está pior. Se os cientistas acreditam que 245 espécies desapareceram da face da Terra desde 1500, outras 794 estão sob risco iminente de também receber o rótulo de extintas.

A alteração desse destino, segundo estudo da Aliança para a Extinção Zero que será publicado esta semana na edição on-line da Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), passa pela preservação urgente de 595 áreas em todo o mundo.

Esses pontos seriam a salvaguarda para que o mundo ficasse livre de uma crise de extinção nos próximos anos. A Aliança para a Extinção Zero reúne 52 instituições de pesquisa entre universidades e órgãos não-governamentais, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a Conservação Internacional.

“Ilhas e montanhas são ambientes isolados. Muitas das espécies só existem ali. Pelos resultados obtidos em nosso estudo, verificamos que essas plantas e animais devem ter um tratamento especial”, disse o líder da pesquisa, Taylor Ricketts, diretor do Programa de Ciências da Conservação da WWF, em Washington, Estados Unidos, à Agência FAPESP. Das 794 espécies sob risco imediato, 678 vivem nos dois ambientes. As outras 116 estão em regiões continentais.

Para montar o mapa dos pontos críticos para a extinção de espécies – as áreas tropicais e as regiões próximas às grandes zonas metropolitanas são as mais pressionadas –, os pesquisadores levaram em conta três itens. O local, para ser considerado pela pesquisa, deveria contar com pelo menos uma espécie ameaçada de extinção pela lista de 2004 da União Mundial para a Natureza (UICN). Além disso, a região deveria ser conhecidamente local de residência dos animais e ter fronteiras bem definidas, como um pequeno lago, por exemplo.

“Definitivamente, existem algumas incertezas em nossa lista de espécies e de lugares. As espécies raras são também pouco conhecidas e podemos, no futuro, descobrir que algumas existem em outras regiões. Entretanto, o inverso também pode ocorrer. Podemos encontrar espécies com um hábitat mais reduzido do que se imagina até agora”, aponta Ricketts.

No caso do Brasil, a lista de espécies sob risco de desaparecer é bastante grande. O país é o terceiro da lista, com 39 pontos considerados como de preservação urgente. O México lidera o ranking, com 63, e a Colômbia aparece em segundo lugar, com 48. Os primeiros países desenvolvidos na relação são a Austrália e os Estados Unidos, que dividem a oitava posição com Cuba e Venezuela, com 18 áreas.

Mais informações: www.zeroextinction.org.

Preservando as tartarugas

A HidroAll do Brasil Ltda, fábrica brasileira em compostos clorados de origem orgânica, está ajudando a preservar as tartarugas do Projeto Tamar, do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). A empresa, voltada à fabricação de produtos para a desinfecção de água, alimentos, piscinas, entre outros, doou ao Projeto cloro orgânico para o tratamento da água dos tanques da base de Ubatuba, cidade do litoral norte de São Paulo.

Ao contrário dos outros tanques que dispõem de água salgada corrente, em Ubatuba o uso da água do mar para as tartarugas é inviável pelo alto índice de poluentes que o mar apresenta. A alternativa encontrada pelo IBAMA foi filtrar esta água em tubulações e filtros de areia, e esterilizá-la com a utilização de cloro orgânico, criando assim um habitat limpo e seguro para as tartarugas.

De acordo com o coordenador técnico do Tamar, José Henrique Becker, até então se fazia uso dos cloros inorgânicos para esterilização, o que atrasava o trabalho de limpeza e gerava irritação nas mucosas dos animais, além de odor forte que incomodava funcionários e visitantes. “As tartarugas ficam o dia todo na água. A dificuldade com a manutenção dos tanques sempre foi utilizar um cloro que não irritasse as mucosas. Com o cloro inorgânico a água tinha que descansar por mais de 24h antes de mergulhar as tartarugas”, declara Becker.

Em dois meses, com o uso do cloro orgânico, os tanques apresentaram ótimos resultados em eficiência de esterilização e no indicador de duração, com a vantagem incomparável na rapidez da limpeza dos tanques e na segurança da saúde das tartarugas. Com o cloro inorgânico, qualquer lapso gerava um estrago. “Houve caso em que um erro de dosagem gerou vermelhidão nos olhos de uma tartaruga imersa”, revela.

O principal parâmetro que confirma a qualidade e a tranqüilidade oferecidas pelo produto orgânico é o seu pH, que se mantém praticamente neutro (7.2, 7.6), o que garante uma margem de riscos mínima para as tartarugas. As piscinas do Tamar são limpas a cada mês ou dois meses devido à acumulação de algas nas paredes. Os funcionários que fazem a manutenção dos tanques também foram beneficiados com a mudança para o produto orgânico. Hoje, eles não sentem odor ou mal estar.

“O cloro orgânico possibilita, além de desinfectar a água e, assim, evitar a proliferação de muitas doenças na água dos tanques, é menos nocivo às tartarugas do projeto por ele ser um composto químico natural, que não permite a formação em altas doses de trihalometano – substância gerada no processo de cloração que é considerada cancerígena”, afirma Roberto Gross, Presidente da hidroall.

Em vista dos perigos que afetam a vida das tartarugas marinhas, uma equipe de 40 pessoas, entre estudiosos e comunidade, ajuda na pesquisa e monitoramento da base do Tamar instalada em uma área urbana de 3.600 metros quadrados, cedida pela Prefeitura de Ubatuba, no bairro do Itaguá, região central do município. Além da infra-estrutura de apoio, como alojamento, administração e Centro de Reabilitação, a base tem Centro de Visitantes com auditório para exibição de vídeos institucionais e educativos, sala de recreação infantil, loja e lanchonete.

O projeto Tamar, comandado pelo IBAMA em parceria com a Fundação Pró-Tamar, foi fundado para monitorar cerca de mil quilômetros de praia, na pesquisa e reabilitação de tartarugas marinhas, com a instalação de 20 bases responsáveis pela cobertura de oito estados brasileiros, que em breve passará a nove, com uma ocupação no Paraná.

Em Ubatuba, são cinco tanques onde vivem 20 tartarugas marinhas de quatro espécies, mais três cercados terrestres com tartarugas de água doce e jabutis.

Leave a Reply

Your email address will not be published.