Biodiversidade: a biblioteca da vida

A devastação que o furacão Katrina provocou em Nova Orleans é um evento fora de escala compreensível, mas metade da culpa cabe a ação do homem, segundo o ambientalista norte-americano Thomas Lovejoy, “O curso forçado do rio Mississipi e aquelas barreiras na área de pântanos já eram previstos há muito tempo como impacto ambiental”, disse ele durante o fórum permanente Universo do Conhecimento, promovido pela Universidade São Marcos, em São Paulo.

De acordo com Lovejoy, o meio ambiente próximo também deve ser afetado quando as águas contaminadas pelos vazamentos de gás, óleo e esgotos chegarem até o Golfo do México. “Não há o que fazer”.

Atual consultor-chefe de biodiversidade do Banco Mundial e presidente do Centro de Ciência H. John Heinz III, Lovejoy foi dirigente do WWF-EUA por muitos anos e é um especialista em Brasil, onde residiu por 17 anos.

O biólogo considera pouco o que sabemos sobre as espécies que compartilham o nosso planeta. Para ele, um dos grandes projetos científicos deveria ser o inventário de toda a variedade de vida existente no mundo. Lovejoy comparou a biodiversidade do mundo a uma grande biblioteca, fundamental para as ciências da vida. “Há séries contínuas de descobertas e de introspecções sobre como os sistemas biológicos funcionam que vieram de fontes imprevisíveis da natureza”, explicou ele, citando como exemplo os antibióticos, que surgiram de uma placa de cultura de laboratório contaminada com o “penicillium” do queijo roquefort.

“É de nosso interesse tratar esta biblioteca viva com o mesmo respeito que tratamos as bibliotecas de livros escritos pelo homem”, finalizou.

Mas o biólogo alerta para o descaso com que o homem trata o seu habitat: “Não é nenhum segredo que a biodiversidade está sendo perdida rapidamente em quase toda parte do mundo e que nós estamos no começo do que poderá ser a sexta extinção grande na história da vida na Terra”, desabafou ele.

O ambientalista explicou que o homem está afetando a biodiversidade de várias formas. Uma delas, que ele chama “colheita excedente”, está relacionada às atividades humanas ligadas à alimentação, como pastagens, pesca e plantações. Outra força destrutiva é a fragmentação do habitat, com a destruição de florestas e extinção de espécies. Como exemplo, Lovejoy citou a devastação da Mata Atlântica na Bahia e de parte da floresta Amazônica, provocada pelo povoamento humano. A poluição e o uso de agrotóxicos na lavoura são outros fatores que contribuem para impactar a biodiversidade no mundo.

Lovejoy finalizou a palestra conclamando todos a se interessarem mais pela biodiversidade. Para ele, é preciso compartilhar este conhecimento cada vez mais, procurar novas alternativas de energia, produzir menos lixo. “Todos temos muito para fazer”.

Veja no arquivo abaixo a íntegra da palestra

Anos para medir custo ambiental do Katrina

Veja no arquivo abaixo o artigo de Stephen Lehay narrando a destruição de 52 quilômetros quadrados de pântanos, pesqueiros inteiros e uma grande quantidade de ilhas próximas da costa do Golfo do México. Segundo o articulista da IPS “os efeitos da tormenta serão sentidos por 15 anos, afirmam cientistas”.

Elogios ao Brasil

Para o ambientalista, o Brasil é um dos lugares do mundo onde há uma maior concentração da biodiversidade, mas também onde há concentrações de espécies sob ameaça de extinção. Para Lovejoy, os responsáveis pelos governos têm um papel preponderante neste processo de proteção ao meio ambiente, mas devem depender da consciência pública como condição básica para sua vontade política.

Lovejoy acredita que as estratégias de conservação devem ser intensificadas na agenda ambiental dos países, tendo em vista a perspectiva de mudança climática, com o aquecimento global e aumento de poluição. Em relação ao efeito-estufa, ele acredita que é um dos itens mais importantes para evitar a interferência perigosa nos ecossistemas.

“Minha suposição é que o limite das emissões deve ser menos do que as 450 partes por milhão estipuladas”, disse ele, acrescentando que isto será algo difícil de se conseguir pela tendência e relutância dos governos, como é o caso dos EUA, para fazer estas mudanças.

Para ele, outro importante fator a ser controlado é a queima de biomassa. “A última contagem colocava o Brasil como a nação que mais emite”, disse Lovejoy. A boa notícia, para ele, é que o reflorestamento e a redução do desmatamento podem fazer contribuições importantes para reduzir as emissões e limitar concentrações do gás carbônico (CO²).

Questionado pela platéia sobre o problema da biopirataria nas florestas brasileira, Lovejoy respondeu que o País perde mais biodiversidade com a queima da floresta, que se esvai em CO². “Felizmente o Brasil, que tem uma parte tão fabulosa da diversidade da vida, é um líder na produção científica e na política ambiental global”, concluiu ele, citando a invenção do Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, apresentado na Convenção da Mudança Climática e a participação como anfitrião da Eco 92.

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