Como o lixo pode recuperar solos

David Welsh – London Press Service

Cientistas ingleses estão planejando recuperar terra contaminada usando o lixo doméstico com uma nova técnica para combater a crescente crise dos aterros sanitários. Atualmente, os primeiros testes de campo estão sendo executados em Yorkshire, norte da Inglaterra, com a técnica conhecida como Biostore, que combina lodo de esgoto estabilizado com lixo industrial, tal como carvão vegetal e lixo de demolição, para criar terra sólida apropriada para fundações de construção. Essa técnica foi desenvolvida por cientistas do Imperial College de Londres.

Com a Inglaterra e o País de Gales produzindo 400 milhões de toneladas de lixo por ano e 0,8% do solo do Reino Unido considerado contaminado, a Biostore fornece não apenas uma alternativa em potencial para os aterros sanitários tradicionais como método de gerenciamento do lixo, como também oferece a possibilidade de reutilizar locais da terra barrenta (anteriormente descartada) em vez de cultivar terra gramada.

O sistema tem base em uma idéia antiga de recuperar pedaços de carvão usando formulações de solo artificial, porém dá um passo à frente, utilizando o espaço deixado entre as partículas de cascalho compactado. Preenchendo esses 20 a 25% de volume com cascalho estabilizado e isolando a mistura composta do ambiente externo, os pesquisadores esperam demonstrar que é possível criar um solo estável apropriado para as fundações dos edifícios.

“Entretanto, antes que qualquer aplicação em grande escala possa ser feita, serão necessários levantamentos de locais apropriados e o estabelecimento de uma estrutura normativa aceitável em colaboração com os órgãos de Proteção Ambiental. Nossos parceiros de pesquisa, a British Geological Survey a o Clean Rivers Trust, estão contribuindo com tais tarefas. A diretoria do aterro sanitário de EU assegura que em 2020 será necessário reduzir a utilização de aterros sanitários para 35% do que utilizávamos em 1995. É oportuno considerarmos métodos alternativos de descarte de entulho, tais como reciclagem ou incineração e investirmos em novas tecnologias para ajudarmos a tentar resolver a crescente montanha de lixo produzida por nós”.

Tendo desenvolvido com sucesso estudos de apoio em laboratório, a equipe do Imperial College vem somando forças com empresas de gerenciamento de lixo como a Biffa Waste Services e a Yorkshire Water Services – uma das maiores empresas de abastecimento de água do mundo – na execução de testes de campo em três locais de Yorkshire.

Disposição para os lodos

“Acredito que uma das grandes preocupações que a maioria das pessoas expressam quando explicamos o projeto são as espécies de odores envolvidos e se o esgoto não representa nenhum risco” afirmou a Dra. Irina Tarasova, do Departamento de Ciências e Engenharia do Solo do Imperial College, uma das pesquisadoras do projeto. “Contudo, temos demonstrado que a utilização adequada dos materiais estabilizados, dispostos em argila alinhada com uma borda de cascalho para desviar as águas pluviais, proporciona a formação rápida de uma massa composta muito impermeável e isolante. A estrutura resultante é similar à terra não-utilizada, porém com a vantagem de que ela possui estabilidade e drenagem planejadas”.

O Dr. Bill Dudeney, líder do projeto, acrescentou: “A idéia por trás da Biostore é relativamente simples – porém somente com mudanças na legislação e na percepção do público é que teremos um forte incentivo para buscar essas novas soluções para tratamento do lixo. Por exemplo, uma única aplicação de Biostore poderia, em princípio, tratar todo o lodo que sai anualmente dos esgotos de uma grande cidade”.

Mais informações:

www.imperial.ac.uk

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