Programas sociais entram no dia-a-dia das empresas

Cecy Oliveira – especial de Lamarão, interior da Bahia(*)

Estar engajada em programas ambientais e sociais no entorno de suas fábricas ou em municípios vizinhos é uma prática comum à maioria das grandes empresas do Brasil. O que não é tão freqüente é o apoio a projetos realizados em regiões mais distantes.

Foi isso que fizeram as empresas Solvay Indupa do Brasil S.A., cuja fábrica brasileira está sediada em São Paulo, e a Amanco Brasil, indústria de tubos e conexões, com fábrica em Joinville (SC). Ambas literalmente se aventuraram no sertão baiano para apoiar o projeto de construção de 1 milhão de cisternas, em parceria com o Movimento de Organização Comunitária (MOC) e a Articulação no Semi-árido Brasileiro (ASA).

A experiência, que nesta etapa está beneficiando 80 famílias, é considerada muito positiva pelo gerente de Relações Institucionais da Solvay Indupa do Brasil, Édison Carlos. Ele destaca a importância da participação das empresas em ações sociais e ambientais buscando dar sua contribuição para a melhoria das condições de vida da população, principalmente através de programas como este que tem um grande impacto no dia-a-dia das pessoas.

Levar água para locais distantes dos grandes centros, como as vilas de Lamarão ou Quijingue, no interior da Bahia, próximo a Feira de Santana, ou em outros pontos do país – onde é mais gritante o reflexo da falta de prioridade de sucessivos governos com a questão do saneamento – pode não ter o glamour de um evento com todos os componentes do marketing. Mas traz um outro tipo de dividendos: o sorriso e o abraço de dona Augustina e sua numerosa família. E os comentários entremeados de vários agradecimentos: “Está muito melhor. Agora não preciso mais ficar andando de cá para lá com essa lata d’água na cabeça” diz ela enquanto acaricia a cisterna ainda branquinha, com a pintura recém-terminada que vai possibilitar armazenar 16 mil litros de água da chuva. “Se Deus não mandar chuva a gente pode encher com o carro-pipa. Mas o importante é que ela está aqui, pertinho de nós”.

Dona Augustinha faz parte de um ainda pequeno grupo de “privilegiados” que já têm a sua cisterna, aprenderam como fazer o tratamento da água – captada do telhado, através de um sistema de calhas e tubos de PVC – e foram orientados sobre doenças de veiculação hídrica. Segundo dados do MOC foi possível detectar uma redução de 98,8% nos casos de diarréia em famílias que já dispõem dos reservatórios.

Cada cisterna pode armazenar um volume suficiente para as necessidades básicas – beber e cozinhar – de uma família de seis pessoas durante oito meses. O custo de cada uma delas – construídas em alvenaria – mais o sistema de captação da água da chuva fica em torno de R$ 1.200,00 e todos participam da construção através de um mutirão que termina em festa na hora da inauguração. As famílias beneficiadas são escolhidas por comissões municipais formadas por representantes da comunidade, sindicatos rurais e igreja.

* Cecy Oliveira visitou Lamarão a convite da Solvay Indupa do Brasil

Cordel

A literatura de cordel é uma tradição da Nordeste. Um tema como a cisterna produz versos como estes, de Rogaciano Oliveira:

“Guardar água em cisterna

É uma boa opção

A água da chuva é pura

E durante o verão

Será bem aproveitada

Pelo povo do sertão

Da água contaminada

Basta beber uma dose

Para alguén adoecer

De cólera ou verminose

Água com xixi de rato

Transmite leptospirose

Portanto muito cuidado

Com a água de beber

Trate com hipoclorito

Se quiser pode ferver

Só tome água filtrada

Que muito bem vai fazer”.

Parceiros do mutirão

Édison-Carlos: “importância da participação”

A Solvay Indupa do Brasil S.A é uma das sete empresas do grupo belga Solvay, que atua nas áreas de química, plástico, transformação e farmacêutico e está no Brasil há mais de 60 anos.

O complexo industrial no Brasil fica localizado em Santo André (SP) onde produz 240 mil toneladas /ano de PVC e 100 mil toneladas/ano de soda cáustica.

A empresa participa também de programas de educação ambiental com as comunidades que moram nas cidades vizinhas à fábrica. O objetivo é a preservação dos recursos hídricos.

A Amanco Brasil é uma empresa de destaque na fabricação de hidrossanitários, resultado da fusão das marcas Fortilit e Akro e detentora do conceito tubosistemas, marca registrada que designa os sistemas integrados de tubos e conexões.

O MOC é uma entidade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1967 e que atua em programas de desenvolvimento sustentável do semi-árido em 44 municípios da Bahia.

A Articulação do Semi-árido Brasileiro (ASA) é um fórum de organizações da sociedade que promove o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do semi-árido nordestino.

Também apóiam o programa das cisternas, iniciado em 1999, sindicatos e associações comunitárias e órgãos do governo federal.

Critérios de escolha

A escolha das localidades que recebem prioritariamente as cisternas leva em conta indicadores como: IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano), número de crianças e adolescentes em situação de riscoe taxa de mortalidade infantil da comunidade.

Em relação às famílias, são contempladas primeiramente as que têm mulheres como chefe de família, número de crianças de 0 a seis anos, número de crianças e adolescentes na escola, número de adultos com idade ou superior a 65 anos, existência de deficientes.

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