
Direto de Buenos Aires ( Argentina)
O uso inteligente da água – um insumo que começa a ser cada vez mais valorizado – pressupõe a adoção de pelo menos duas alternativas: a conservação e o reuso. Assim o especialista brasileiro Ivanildo Hespanhol iniciou sua apresentação no IV Acquasur, evento promovido pela Associação Latino-Americana de Fabricantes de Cloro-Soda, que reuniu dezenas de técnicos da América Latina, em Buenos Aires, de 09 a 11 de maio.
Ele citou que os romanos, com seus aquedutos de mais de 30 quilômetros de extensão deixaram um legado cultural que passou à Engenharia do continente. Essa herança é de ir buscar água cada vez mais longe – e portanto cada vez mais cara – para atender demandas crescentes. E ele citou o exemplo da cidade de São Paulo, que já importa de outros mananciais e tem hoje uma das tarifas mais elevadas do mundo, exatamente por conta dessa “ginástica para atender à demanda. Em sua opinião há um espaço muito grande para obter água usando métodos de conservação e reuso.
O maior exemplo dessa cultura de abundância, segundo Hespanhol, está nos banheiros da maioria das casas que ainda despejam, a cada descarga, 20 litros quando seis seriam suficientes. Isto sem falar nas perdas de todo o sistema desde a estação de tratamento até as residências onde vazamentos desperdiçam cerca de 45% do que é produzido.
“Pode-se economizar até 32% com o uso racional. Uma novidade auspiciosa são as novas máquinas de lavar roupa, já em uso no Japão e na Coréia, que em lugar dos elásticos 150 litros para cada carga de 5 kg estão usando 80 litros, com a mesma eficiência”, disse Hespanhol, acrescentando que a vantagem é que a roupa já sai quase seca.
Outro setor que tem um potencial para economizar água é a irrigação bastando mudar a técnica da inundação por outras, como a de sulcos, por exemplo. As cidades, cujo gasto de água representa uma pressão maior ainda sobre a demanda têm um potencial de reuso que pode crescer 95% incluindo atividades como lavagens de ruas, irrigação de jardins, lavagem de carros, reserva de incêndio, ornamentação urbana (fontes e chafarizes), controle da poeira e construção civil.
Hoje no mundo inteiro o reuso está sendo empregado principalmente na agricultura e indústria, mas ganham força também os usos em aqüicultura e recarga de aqüíferos em zonas de super-exploração.
Ivanildo Hespanhol, que é diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso da Água (Cirra), em São Paulo, destaca que uma das dimensões do reuso é de seguir a diretriz da ONU segundo a qual não se deve usar água de qualidade onde se pode usar a de menor qualidade.
Múltiplas aplicações
Embora existam vantagens inegáveis no reuso, sobretudo em zonas de demanda reprimida, há ainda no Brasil aspectos legais e institucionais a serem vencidos para que a prática se dissemine. Além disso não se pode descuidar das variáveis sócio-culturais e religiosas e do aspecto ambiental. A participação da comunidade na definição dos usos, conforme as características locais e/ou regionais, é outro componente importante na definição de uma iniciativa de reuso, segundo o especialista.
Seja em irrigação, em limpeza de ruas ou carros ou em outros usos não potáveis a reutilização exige uma gestão de risco que inclui: o tipo de tratamento a ser utilizado, os métodos de aplicação, a seleção e controle de culturas, o controle de exposição humana.
Outra utilização possível do reuso é na criação de barreira costeiras em locais de perfuração descontrolada de poços. Isto é muito freqüente nas regiões litorâneas. A estratégia é que essa injeção evite a intrusão da água do mar o que pode trazer a salinização dos mananciais subterrâneos.
Em regiões de super-exploração, como na Cidade do México, o reuso pode amenizar o fenômeno do afundamento (subsidência) do terreno. Em algumas regiões daquele país conforme Adalberto Loyola, da Universidade Autônoma do México, esse fenômeno registra até um metro de depressão por ano.
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