Mais de 4.000 empresas se cadastram para explorar Aqüífero Guarani

Amore: alerta para o perigo de contaminação

Walberto Caballero Achucarro – moderador da Red de

Comunicación Ambiental de Latinoamericana y del Caribe no Paraguai

A água é o bem comercial do presente e do futuro, sem dúvida. A evidencia mais clara: no Paraguai existem 4.716 empresas registradas no Ministério de Indústria e Comércio (MIC) na “Classe 32” destinadas ao registro de firmas interessadas na exploração de água mineral para comercializá-las com ou sem adição de gás ou para produzir cervejas. Quase a totalidade são empresas multinacionais.

Muito se debateu sobre o interesse de grandes empresas multinacionais no comércio da água, durante o III Fórum Mundial da Água, realizado em março último em Quioto, Japão. Quando participei do evento conclui que o interesse poderia se centrar sobre os aqüíferos Patiño e Guarani, mas jamais imaginei que já estavam registradas no país 4.716 empresas para explorar esse vital líquido, considerado “o petróleo” do futuro.

Quando consultei a Direção de Marcas do MIC sobre empresas registradas

para explorar e comercializar água mineral, encontrei uma nutrida lista, que incluía empresas norte-americanas, mexicanas, argentinas e brasileiras. Um percentual mínimo, talvez não mais do que 3%, correspondia a empresas paraguaias.

Pesquisando nos arquivos, pude comprovar que em 1999 se registraram 226

empresas para la exploração de água; em 2000, 279 firmas; em 2001, 288 empresas; em 2002, 290 firmas; e até agosto deste ano já se registraram 206 empresas.

Conforme os responsáveis do MIC, estas empresas se registraram na “Classe 32”, que corresponde a águas minerais, gasosas e outras bebidas não alcoólicas, e se inclui a cerveja por utilizar a água para sua produção.

Entre as empresas registradas mais interessadas na água do Paraguai estão as de Illinois, Delaware, North Carolina, Ireland e Pennsylvania, todos dos Estados Unidos; assim como as de varias companhias do Brasil, Argentina, Holanda, Alemanha e da Itália.

Na lista de registros na seção destinada à exploração de água estão, curiosamente, a Shell International Petroleum Company Limited, a Exxon Mobil Corporation e a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA).

A “Classe 32” do MIC é a seção com mais registros de marcas.Praticamente está saturado o setor por tanta competição que se dá entre companhias multinacionais.

Atualmente a maioria delas não exerce nenhuma atividade no país, mas já estão registradas, por via das dúvidas.

Não se descarta que o objetivo seja o Aqüífero Guarani. O que se desconhece é o mecanismo de exploração. Haverá algo que estas empresas conhecem sobre

o aqüífero e que nós desconhecemos?.

O geólogo e especialista paraguaio em pesquisa de águas subterrâneas, Félix Villar, nos deu uma visão mais real do Aqüífero Guarani, principalmente sobre sua profundidade em território paraguaio.

Conforme suas expressões, as águas do aqüífero “afloram” muito próximo da superfície na zona de Trinidad. Em San Pedro sai a água do aqüífero Guarani a uma profundidade entre 80 a 120 metros; em Capitán Miranda, a 110 metros; em

Hoenau, a 120 metros; em San Juan Batista Misiones, entre 150 a 180 m.

As zonas onde o aqüífero está mais profundo são: Minga Guazú, 700 metros; Capitán Bado, não aflorou a água em 385 m; em Bella Vista Sur, a 325 m; e em Pedro Juan Caballero foram perfurados 220 m. sem encontrar-se o aqüífero.

O Aqüífero Guarani, nos países vizinhos, aflora também em profundidades

variáveis, e se estima que sua profundidade máxima vá até 1.200 metros. No Uruguai se explora como água termais, por sua temperatura entre 40 a 60 graus.

O geólogo Villar sustenta que no Paraguai estão as zonas de mais fácil afloramento do aqüífero, mas também é a zona com maior risco de contaminação por agrotóxicos, como em San Pedro, por exemplo, onde quase não existe o basalto que protege a água subterrânea. Só uma camada de arenito é toda a proteção em dita zona, segundo o especialista.

Paraguai e Uruguai fora do acordo

Os governos da Argentina e do Brasil assinaram recentemente um convênio pelo qual acertaram ações conjuntas sobre recursos hídricos, principalmente o Aqüífero Guarani. Deste acordo não participaram Paraguai e Uruguai. Por que? Não há até o momento reclamação alguma de parte do governo paraguaio.

As grandes potências comerciais e industriais do Mercosur son, sin lugar a dudas, Argentina y Brasil. São os países que de certo modo condicionam o mecanismo de funcionamento do Mercado Comum do Sul (Mercosul), e têm surgido queixas veladas entre os sócios menores.

O aqüífero Guarani, coincidentemente, se encontra nos quatro países do Mercosul (ver mapa). Entretanto, o acordo de cooperação exclusiva entre Argentina e Brasil assinado por Néstor Kirchner e Luiz Inácio “Lula” da Silva não inclui a Paraguai e Uruguai. O documento em prevê ações conjuntas para a preservação dos recursos hídricos assim como o uso sustentável das águas doces armazenadas o aqüífero Guarani.

Os riscos antropogênicos

A rede Tierramerica publicou recentemente um material de María Laura Mazza, que garante que o aqüífero Guarani” pode sofrer deterioração irreversível pela contaminação e a exploração irracional”.

Explica que o aumento sem controle dos volumes de água extraídos e os contaminantes como agroquímicos e resíduos urbanos e industriais, entre outros factuais, põem em risco o abastecimento de água potável de milhões de pessoas, a indústria turística hidrotermal e o eventual uso de águas termais como fonte de energia na região.

Já há conhecimento sobre problemas concretos no aqüífero Guarani, segundo reconheceu a Tierramérica o secretário-geral do projeto Sistema Aqüífero Guarani (SAG), o brasileiro Luiz Amore, que tem seu escritório no edifício Mercosul, Uruguai.

“Somente a presença de pesticidas e fertilizantes agrícolas em zonas de recarga do aqüífero com a água da chuva constitui uma ameaça. E a atividade agropecuária pode, além disso, compactar os solos e impedir a infiltração”, explicou Amore. Nas cidades de Rivera e Santana do Livramento, lado a lado da fronteira seca entre Uruguai e Brasil, há um elevado risco de contaminação pela proximidade da área de recarga do aqüífero com pequenas indústrias, postos de gasolina, cemitérios e lixões, assinalou Amore.

Alguma empresas registradas

Nativa Indústria de Bebidas Ltda.

Burger King Corporation

Molson Canadá

Cerveceria Cuauhtemoc Moctezuma

Eduardo Souza Mendes de Oliveira

Aloe Vera of América, Inc,

Kraft Food Brasil S/A

Chalé Industria de Bebidas Ltda.

South African Breweries International

Heineken Brouwerijen BV

Cervejaria Colônia Ltda.

Extreme Sports Importação, Exportação e Comércio Ltda.

Bebidas Fruku Ltda.

Telefônica Moviles S/A.

Daimlerchrysler

Leave a Reply

Your email address will not be published.