
Um índice mundial de pobreza da água – cuja sigla em inglês é WPI, Water Poverty Index – mostra que algumas das mais ricas nações do mundo, como os Estados Unidos e o Japão, estão mal posicionados no ranking, enquanto países em desenvolvimento figuram entre os Dez Mais, segundo os cientistas do UK’s Centre for Ecology & Hydrology e especialistas do World Water Council. O Brasil está no bloco intermediário alto, ocupando a posição 50º, mas figura entre os dez piores no que se refere ao acesso à água para sua população.
O WPI foi desenvolvido por uma equipe de 31 pesquisadores em consulta a mais de 100 profissionais da água ao redor do mundo. A escala internacional classifica 147 países de acordo com cinco diferentes medidas: recursos, acesso, capacidade, uso e impacto ambiental para mostrar onde estão as melhores e as piores situações.
De acordo com o WPI, as dez mais ricas nações em água são:
1. Finlândia
2. Canadá
3. Islândia
4. Noruega
5. Guiana
6. Suriname
7. Áustria
8. Irlanda
9. Suécia
10. Suíça
Os mais pobres são todos países em desenvolvimento: Haiti, Niger, Etiópia, Eritréia, Malawi, Djibouti, Tchad, Benin, Ruanda e Burundi.
“A estreita ligação entre pobreza, privação social, integridade ambiental, disponibilidade de água e saúde tornam-se claras no WPI, permitindo aos formuladores de políticas identificar onde existem problemas e quais as medidas mais apropriadas a tomar ”, disse Caroline Sullivan, Ph.D., que lidera uma equipe interdisciplinar para a formulação do conceito do WPI no Centre for Ecology & Hydrology, em Wallingford, Grã-Bretanha.
O novo índice demonstra a forte conexão entre “pobreza de água” e “baixa renda” . Esta relação será o principal tema do próximo 3rd World Water Forum, onde mais de 10.000 representantes governamentais, de organizações internacionais e ONGS, indústrias e especialistas vão discutir a crise da água e as soluções possíveis. O Fórum, que acontecerá em Quioto, Japão, em março de 2003, está sendo esperado como a mais importante conferência internacional sobre água jamais acontecida.
Uma das vantagens desta classificação é que ela utiliza informações já disponíveis em uma série de fontes, inclusive o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU.
A posição do Brasil
Segundo o WPI o Japão está na 34ª posição, com escore muito alto no acesso e capacidade mas muito baixo – só 11,6 pontos – em meio ambiente.
Na América do Sul os valores são muito semelhantes para a maioria do países. Com a maior população o Brasil obteve 61,2 WPI pontos, com variáveis baixas para uso e meio ambiente. Comparativamente, países com menor população tiveram altos escores, como a Venezuela com números altos de capacidade per capita completado por acesso e gerenciamento relativamente bons.
Enquanto a capacidade da Argentina é alta, seu índice para uso é baixo refletindo um certo grau de ineficiência particularmente nos setores industriais e agrícola. Similarmente, no Uruguai, os altos índices em acesso e capacidade não encontram correspondência no uso e meio ambiente. Com uma pontuação de 68.9, o Chile obtém bons ou moderados escores em cada componente.
Água e saúde
No item saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS- as doenças diarreicas são responsáveis por mais de 3 milhões de morte a cada ano.
As enfermidades causadas pela água provocam todos os anos mais de 5 milhões de mortes e 3 milhões de pessoas ficam incapacitadas e perdem dias de trabalho por causa de moléstias de origem hídrica.
O Dr. Sullivan estima que as perdas econômicas por causa das diarréias representam mais de US$ 6 bilhões por ano principalmente em salários e produção. Os dez países com o maior número de pessoas sem acesso à água são:
China Índia Nigéria Indonésia Etiópia Vietnam Brasil Turquia Paquistão e Congo .
Os países em desenvolvimento têm problemas por causa dos índices negativos de saneamento. Nos Estados Unidos a incidência de doenças de origem hídrica caiu de oito casos por 100 mil habitantes/ano entre 1920 e 1940 para menos de 4 entre 1970 and 1990 à exceção do episódio de Minneápolis, em 1993 que teve 400 mil casos causados por Cryptosporidium resultando em 100 mortes.
Mais detalhes: http://www.ceh-wallingford.ac.uk/research/WPI.
Contrastes
“O WPI demonstra que não é o total dos recursos hídricos disponíveis que determina níveis de pobreza em água mas efetivamente como estão sendo usados esses recursos,” disse o Dr. Sullivan. “O melhor exemplo de como o uso e a situação de pobreza afetam o índice da nação pode se obtido comparando o Haiti e a República Dominicana”.
Os dois países dividem entre si a ilha caribenha Hispaniola e têm mais ou menos a mesma quantidade de água mas a posição do Haiti é a última do ranking enquanto a República Dominicana está no pelotão intermediário, em 64º lugar.
“A causa para essa grande discrepância é devida, em parte, ao fato de que os mananciais do Haiti são menos desenvolvidos, têm menos infra-estrutura enquanto os habitantes da República Dominicana têm muito melhor acesso à água do que os haitianos”, afirma o Dr. Sullivan. “Entretanto, significativamente os escores de capacidade da República Dominicana são também muito altos, indicando uma população saudável, muito bem-educada e com uma renda razoável. Em termos de uso e meio ambiente os índices do Haiti são muito baixos refletindo menor desenvolvimento”.

Pontuação
O WPI dá um valor de 20 pontos ao melhor índice de cada uma das cinco categorias. Um país que pudesse atender integralmente aos critérios nas cinco categorias poderia obter 100 pontos. Mais o país com o melhor índice – a Finlândia – tem 78 pontos enquanto o Haiti, o último, só conseguiu 35.
No quesito capacidade, que mede a habilidade para adquirir, manejar e interceder pela melhoria da água, da educação e da saúde os melhores colocados foram a Islândia, Irlanda, Espanha, Japão e Áustria.
Nas piores posições neste aspecto estão: Serra Leoa, Niger, Guiné-Bissau, Mali e República Centro-africana. Niger e Serra Leoa, por exemplo, têm as mais altas taxas de mortalidade de menores de cinco ano do mundo, respectivamente 320 e 316 por 1.000 nascidos vivos.
Para Recursos, que avalia o volume per capita de água de superfície e de recursos subterrâneos que podem ser usados pelas comunidades e países , os cinco melhores são: Islândia, Suriname, Guiana, Congo e Papua Nova Guiné. Os menos favorecidos são: Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Arábia Saudita, Jordânia e Israel. Apesar da escassez de água, Israel, Kuwait e Arábia Saudita estão entre os 50% melhores refletindo sua habilidade para superar essa escassez através de medidas efetivas de gerenciamento e uso.
No item acesso, que mede a facilidade de acesso à água para beber, para o uso industrial e agrícola 21 países ganharam escores muito altos: Áustria, Barbados, Bélgica, Canadá, Croácia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Islândia, Japão, Holanda, Noruega, Portugal, Singapura, Eslováquia, Eslovânia, Suécia, Suíça, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Os que alcançaram os menores índices foram: Eritréia, Tchad, Etiópia, Malawi e Ruanda.
Para o item Uso, que examina a eficiência do país em usar a água para propósitos domésticos, agrícolas e industriais o pior país é os Estados Unidos pelas práticas esbanjadoras e não eficientes de uso da água.
Por exemplo, apesar do maciço uso da água na agricultura a contribuição dessa área no PIB do país é medíocre. Além disso tem, um alto índice de consumo per capita e por dólar gerado na produção industrial. Em sua companhia estão Djibouti, Nova Zelândia, Cabo Verde e Itália. Os cinco melhores são: Turcomenistão, Indonésia, Guiana, Sudão e Guiné Equatorial.
No item que mede o Meio Ambiente , a sustentabilidade ecológica incluindo a qualidade da água e as estratégias e regulações ambientais e o número de espécies ameaçadas os cinco tops de linha são a Finlândia, o Canadá, o Grã-Bretanha, a Noruega e a Áustria. Os estados Unidos é o número 6 e os piores índices ficaram com: Haiti, Marrocos, Ilhas Mauricias, Jordânia é Bélgica. O Haiti, por exemplo, tem uma alta proporção de espécies ameaçadas enquanto a Bélgica, supreendentemente, teve um escore muito baixo no que se refere à qualidade da água.
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