Subprodutos de Desinfecção e a Legislação Brasileira II

Em 1990, o National Toxicology Program (NTP), órgão pertencente ao U.S. Department of Health and Human Services, equivalente ao que conhecemos no Brasil como Ministério da Saúde, realizou um estudo sobre água clorada e água tratada com cloraminas, verificando os riscos de geração de câncer em ratos e camundongos de laboratório.

É importante observar que neste estudo, a água usada foi clorada com dosagens de várias ordens de magnitude acima dos níveis usados na água fornecida à população. Os resultados do estudo do NTP concluíram que não havia evidência de atividade carcinogênica em camundongos e ratos machos devido ao consumo de água clorada ou tratada com cloraminas. Falsa evidência de atividade carcinogênica foi observada em ratas, ou seja a evidência foi descartada cientificamente.(Fonte: National Toxicology Program, U.S. Department of Health & Human Services. 1990. Technical Report on the Toxicology and Carcinogenesis of Chlorinated and Chloraminated Water in F344/N Rats and B6C3F1 Mice).

Em 1993, o Dr. Robert Tardiff (Ver referências a seguir) submeteu à EPA (Environmental Protection Agency – Estados Unidos) os resultados de um estudo no qual foram aplicados cinco critérios essenciais para comparar os riscos microbiológicos com os riscos químicos para a saúde, relacionados com a água clorada. Os cinco critérios adotados para as doenças relacionadas com a água foram:

1. Tipos

2. Incidência

3. Severidade

4. Latência

5. Certeza de ocorrência

O estudo do Dr. Tardiff concluiu que o risco de doenças microbianas é muito maior do que o risco apresentado por contaminantes químicos potencialmente cancerígenos para os seres humanos. É importante assinalar que há diferenças significativas entre a incidência de doenças, como por exemplo o tempo entre a exposição e a doença diagnosticada, e a certeza de que aquele agente realmente causou a doença.

Os cientistas acreditam que ainda não é possível estabelecer correlações conclusivas entre subprodutos de desinfecção e doenças sem realizar mais estudos, principalmente porque os testes toxicológicos realizados mostram efeitos adversos em animais de laboratório, usando dosagens de cloro com ordens de magnitude muito superiores às usadas no tratamento habitual.

Isso vale tanto para o cloro como para outros desinfetantes, que como vimos na edição anterior, também geram subprodutos potencialmente perigosos. A diferença é que os subprodutos do cloro foram muito mais estudados do que os outros.

Um exemplo recente da ameaça contínua à saúde pública ocorreu no Peru, em 1991, onde a principal causa foi a interrupção do uso de cloro em tratamento de água, que foi decidida com base em interpretações errôneas dos estudos sendo conduzidos na época pela Agência de Proteção Ambiental americana (EPA). O resultado foi uma epidemia de cólera que se espalhou por 19 países latino americanos, com 1 milhão de casos, e mais de 10.000 mortes.

Riscos

Comparados com os riscos químicos, os riscos microbianos são de 1.000 a 100.000 vezes maiores, sua latência é muito menor (dias contra décadas) e é quase certo que o micróbio causará a doença, enquanto um contaminante químico pode não causar doença e pode até não ser o responsável pelo desenvolvimento da doença.

Referências

Referências do estudo:

(Tardiff, R.G. 1993. Balancing Risks from Chemical Carcinogens & Waterborne Infectious Microbes: A Conceptual Framework. Report prepared for EPA Advisory Committee to Negotiate the Disinfection By-products Rule.

Tardiff, R.G. 1993. Balancing Chemical and Microbial Risks: Weight-of-Evidence for Cancer Risks of Chlorine Disinfection of Drinking Water. Report prepared for EPA Advisory Committee to Negotiate the Disinfection By-products Rule.

Latência: Tempo entre a exposição ao agente e a doença diagnosticada.

Trihalometanos

Na próxima edição veja como controlar os teores de Trihalometanos (THMs) em águas que possam gerar teores acima da legislação.

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