Adalberto Egg Passos
Dentro do meio acadêmico procura-se muitas vezes estabelecer, definir e muitas vezes simplificar conceitos e preceitos que não estabelecem uma cumplicidade com a realidade que nos cerca. A conceituação e o entendimento popular do termo “poluição” é um exemplo claro disso. A emissão de gases e a geração de efluentes são tidos pela maioria dos leigos como um ponto pacífico para estabelecer um estado de “poluição”. E dentro do ambiente econômico e industrial em que vivemos, isto não foge muito da nossa realidade.
Para estabelecer uma clara avaliação do estado de qualidade ambiental de um ambiente natural ou não é necessário avaliar alguns fatores contingenciais, i.e., …..depende. Depende do tipo de ambiente, dos seres receptores, dos parâmetros medidos, dia, hora, época do ano, do tempo geológico, do ciclo biológico, dados históricos, etecetera e tal.
Conceitualmente pode-se definir poluição como “qualquer alteração das características normais dos fatores físicos, químicos e biológicos de qualquer ambiente natural ou não natural”. Com essa definição geramos uma série de contextualizações. A primeira se refere ao reconhecimento do que é uma característica normal de um ambiente. Por exemplo: as águas de alguns rios litorâneos que deságuam na Baía de Paranaguá,(PR), apresentam a cor escura. Esta característica é típica de rios que drenam uma região onde o solo é rico em matéria orgânica vegetal em decomposição, a precipitação pluviométrica é grande e a temperatura é alta. Para o consumo humano esta água está fora dos padrões… mas não está poluída. Claro que temos uma grande maioria de rios do Brasil que são escuros devido ao alto material em suspensão oriundos de processos erosivos.
Aí surge outra questão. É natural rios com alta concentração de material em suspensão? E mais… onde estão os dados históricos para definir certa normalidade? Assim fica difícil estabelecer se um ambiente está poluído ou não.
Outro aspecto interessante e importante é que a natureza tem processos naturais (os ativos ambientais) que são verdadeiras máquinas processadoras que revertem uma condição atípica para uma condição de normalidade.
Entretanto, estes processos estão dimensionados para atender uma “certa” quantidade de matéria-prima e o que vemos e sentimos é que em alguns ambientes não podem atender a toda a demanda necessária para equalizar e normalizar o ambiente alterado. Desta forma, não há capacidade de recuperação, os elementos se acumulam e fogem da “normalidade”,estabelecendo o estado de “poluição”.
Para finalizar, assumo e talvez até erroneamente, que toda vez que se fala em emissão, vejo unicamente a liberação de gás e quando se fala em efluente, vejo e só considero lançamento de substâncias líquidas ao meio ambiente, geralmente de origem doméstica ou industrial.
Não considero esta questão fechada mas espero que tenha contribuído na tentativa de levantar a lebre para certas questões e estabelecer um senso comum.
Elemento receptor
Outro aspecto a considerar é o elemento receptor. A Organização Mundial de Saúde define concentrações adequadas de certos elementos gasosos em ambientes de trabalho. O Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, também define padrões ambientais para avaliação da qualidade de rios e do ar. No caso da qualidade atmosférica, mesmo dentro de tais padrões de normalidade, sabe-se que algumas pessoas, principalmente crianças e idosos, ainda sofrem com problemas respiratórios. Neste contexto, um ambiente poluído pode não causar danos imediatamente à saúde dos que vivem neste ambiente. Mas pode aniquilar espécies de flora e fauna eliminando-as em fases do ciclo de vida em que estão mais sensíveis.
Contaminação
Contaminação é outro termo que é muitas vezes é erroneamente utilizado.Pode-se definir que contaminação é a presença de elementos físicos, químicos e biológicos nocivos à saúde humana ou para qualquer outro ser vivo. Então, um ambiente pode estar poluído mas não necessariamente contaminado, e vice e versa.
Autor
Adalberto Egg Passos é Mestre em Ciências com ênfase em Planejamento Ambiental pela Universidade da Carolina do Sul, USA, administrador, biólogo, professor de Gestão Ambiental no Centro Universitário Positivo – UNICENP e Assessor da Diretoria Técnica do Instituto de Tecnologia do Paraná. Email:apassos@tecpar.br
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